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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

1944 - 2012 Uma vida a serviço do Reino de Deus


Robinson Cavalcanti, um homem, um bispo, um servo de Cristo



Robinson Cavalcanti. O que dizer de um servo de Deus que foi achincalhado e incompreendido em muitos segmentos da igreja evangélica no Brasil durante anos mas que prestou um serviço inestimável à causa de Cristo que só a eternidade revelará?
Eu sei que ele era malquisto por causa de suas ideias progressistas porque o conservadorismo político na Igreja é notório. Todavia, nunca ouvi dizer que ele ofendera alguém, ou que saísse por aí pregando heresias como muitos hoje fazem. Não pregou um falso evangelho. Robinson era um cristão evangélico ortodoxo. Em 2010 havia feito 50 anos de conversão a Cristo. Contou de maneira linda sua trajetória de vida em ULTIMATO em três edições no ano de 2010.
Eu aprendi muito com o que ele escreveu. Durante meus três primeiros anos de curso teológico, li avidamente os artigos de sua autoria em ULTIMATO e minha cosmovisão cristã foi sendo aos poucos moldada. Como um crente pentecostal, acostumado a ouvir coisas geradas em um ambiente de escassa liberdade, os ensinos do Robinson eram um oásis para mim. Ele foi o mentor, o professor, o discipulador que não tive pessoalmente. Mesmo à distância naqueles anos me considerava seu discípulo. Como era um cientista político, escrevia com maestria sobre sua especialidade e abriu sobremaneira meus horizontes que eram estreitos devido ao ambiente um tanto quanto carente de referenciais intelectuais no estilo dele.
Apesar de eu não concordar com algumas peculiaridades do Anglicanismo, eu admiro a maneira correta como muitos se posicionam nessa igreja em relação à vida cristã e em relação à Bíblia e à Teologia e Robinson Cavalcanti foi um desses. Ele passa a pertencer à galeria de outros tantos ilustres, tão anglicanos como ele, alguns também já de saudosa memória como C.S. Lewis, John Stott (que foi o inspirou em 1967 para que se tornasse um ministro da Palavra), J.I. Packer, N.T. Wright e tantos outros.

Quando denunciava os desmandos na igreja evangélica brasileira, era impiedoso e arguto em sua abordagem, sempre escrevendo com profunda base bíblica e também utilizando plenamente as ferramentas das Ciências Sociais (Filosofia, Sociologia, Antropologia, etc) onde demonstrava sua erudição e esmerado preparo em anos de estudo e exercício do magistério universitário.

Amava o Brasil. Amava mais ainda a Cristo e a Igreja. Um homem como poucos. Desnecessário dizer que erros cometeu, e muitos. E de que em algumas coisas de seu pensamento ou em sua visão bíblica e doutrinária eu cheguei a discordar. Mas naquilo que é essencial, necessário, fundamental, bíblico e cristocêntrico, sempre se destacou e por isso hoje seus inúmeros admiradores como eu estamos consternados com sua morte que ocorreu de forma tão animalesca (brutalmente assassinado a facadas pelo filho adotivo bem como também sua esposa, na noite deste último domingo, dia 26 de fevereiro).
Seu legado será melhor compreendido, creio, à medida que o tempo passar. Seus textos lhe conferirão o status de profeta para o nosso tempo. Sim, porque Robinson Cavalcanti falava com convicção, entusiasmo e conhecimento do Cristo a quem servia. Amava a Igreja, como dissemos, e seus textos estão recheados de análises sobre o estado da igreja, com forte embasamento bíblico, histórico, sociológico e filosófico. Eu continuo procurando seus textos para aprender porque Robinson era um mestre consumado.
Como alguém me escreveu em uma rede social, que Deus levante mais homens como ele. Que entreguem-se à causa do Reino, que primem pelo preparo intelectual, como Robinson assim o fez. Tinha ampla formação em humanidades desde o curso médio e foi professor universitário por 35 anos, tendo se aposentado nessa função.
Que aprendamos por meio da vida desse servo de Deus, que Ele ainda chama, unge, capacita e envia a todo aquele que fielmente deseja servir-Lhe. Robinson Cavalcanti serviu a Jesus Cristo e à Sua Igreja por sem titubear por quase 52 anos.

Aqui, na vida e na morte desse servo do Senhor encontramos sabedoria (Ec 7.1-4).

Paremos por um momento para pensar muito bem a respeito.

Texto de Cícero Ramos

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