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segunda-feira, 4 de março de 2013

Por que a sucessão é um problema na AD?



http://geremiasdocouto.blogspot.com.br/2013/03/por-que-sucessao-e-um-problema-na-ad.html

Por que a sucessão é um problema na AD?



Apego ao poder
  355 (61%)
Desconfiança do sucessor
  22 (3%)
Querem passar para filho ou genro
  138 (24%)
Temem a nova geração
  41 (7%)
Medo de ficarem desamparados
  19 (3%)


A enquete ao lado, já encerrada, traça um quadro sombrio sobre como tem sido a percepção dos membros de nossas igrejas quando o assunto é sucessão pastoral. Embora não tenha rigor científico, como sempre reitero, foram 575 votos das mais diferentes partes do Brasil, o que nos permite fazer uma análise bastante real da situação. Para facilitar, repito aqui os dados:

1) 355 votantes (61%) acham que o problema é o apego ao poder.
2) 138 votantes (24%) acham que é o interesse em passar para o filho ou genro.
3) 41 votantes (7%) acham que está no temor da nova geração.
4) 22 votantes (3%) acham que se trata de desconfiança do sucessor.
5) 19 votantes (3%) acham que é medo de ficarem desamparados.

Creio que os líderes de nossa igreja deveríamos parar um pouco para pensar sobre o tema, pois as nossas atitudes, regra geral, estão tendo diferentes interpretações do rebanho - bastantes desfavoráveis até - que, talvez, possam não refletir o que, de fato, vai em nosso coração, embora, em muitos casos, seja visível a predominância dos dois itens mais votados da enquete: apego ao poder e interesse em passar a titularidade do pastorado para o filho ou genro. É importante que cada um veja em que condição se encontra, sem que isso nos tire o direito de "passar a limpo" esse desafio que tão de perto nos afeta.

No primeiro item não há muito o que discutir. O apego ao poder é danoso ao rebanho e se torna uma porta larga para a prática de tantas irregularidades que - um erro aqui, outro acolá - tornam cauterizada a consciência do líder que assim lidera. Ele só se mantém no cargo pela força do seu autoritarismo ou mediante a forma verticalizada em que a liderança é exercida através daqueles que recebem benesses para sustentá-lo na "cadeira papal". É um "colégio cardinalício" oficioso dentro da igreja. O que importa é construir e manter o império. A conversão dos pecadores é apenas um detalhe. Esquecem-se que a Igreja é de Deus.

No segundo item temos de considerar duas vertentes: a primeira tem a ver com o apego ao poder. O medo de que o comando da igreja caia em mãos de terceiros faz com que logo se prepare o filho ou o genro para comandar o "grande negócio" e, assim, manter tudo dentro de casa. Mas temos de olhar o outro lado da moeda, que pouco foi citado na enquete, e tem a ver com aqueles pastores que se gastam como verdadeiros sacerdotes, mas pouco se preocupam com o futuro. Quando chega a hora de passar o cajado, o medo de ficarem desamparados os leva ao mesmo comportamento: preparar o filho ou o genro para assegurar, pelo menos, uma velhice tranquila.

Creio que os itens três e quatro acabam embutidos nos demais. De qualquer modo, o temor da nova geração sempre existirá. É um conflito permanente que só se acentua se a geração anterior não souber lidar com este processo irreversível, deixando de bem preparar os seus substitutos. A desconfiança do sucessor, por sua vez, pode ocorrer pelas razões há pouco explicitadas. Não é fácil abrir mão do poder se ele lhe traz benefícios, como também é difícil passar o bastão para alguém que, lá na frente, não terá escrúpulos em pisar sobre o antecessor jubilado. Com isso, muitas transições se tornam traumáticas e se não produzem reviravoltas maiores se deve ao fato de o povo assembleiano levar muito a sério a questão do respeito à autoridade.

Entre outras, duas coisas a ponderar:

1) Bom seria se pudéssemos voltar há algumas décadas, onde a permuta de igrejas entre pastores era bastante comum. Parece utópico, mas não custa nada sonhar. Isso traz oxigenação, renova as energias, ameniza o desgaste, apresenta novos desafios e rompe com a possibilidade da eternização do pastor em um só lugar, criando para si um império particular. Cito como modelo apenas dois exemplos. O primeiro, Alcebíades Pereira de Vasconcelos, que começou no Piauí, onde passou por algumas igrejas, foi pastor em São Cristóvão, RJ, Belém, PA, e, por fim, em Manaus, AM, onde foi chamado ao descanso eterno. O outro é o do pastor José Pimentel de Carvalho, que pastoreou em Valença, RJ, foi co-pastor em São Cristóvão, RJ, dirigiu a AD da Penha, no mesmo Estado, e terminou os seus dias no pastorado da AD em Curitiba, PR. No modelo de hoje nenhum deles teria essa oportunidade. Os estatutos das igrejas, geralmente, não permitem.

2) Entendo, por outro lado, que filhos de pastores (ou genros) não devem ser estigmatizados, como se não pudessem, também, ter a vocação pastoral. Esse é outro extremo. É óbvio que nem todos a têm e, por isso mesmo, não podem ser empurrados goela abaixo da igreja. Conheço alguns que levaram o trabalho à ruína. Ministério não é hereditariedade, como no Antigo Testamento. Mas aos que são chamados não lhes podemos negar o direito de se aprimorarem na vocação. Muitas vezes são os que menos querem, pois conhecem as lutas que o pai, como verdadeiro sacerdote, experimenta e não desejam trilhar a mesma senda. Mas quando Deus chama, não há saída. Ou obedecem ou sofrem as consequências. Em casos assim não é preciso forçar a barra porque a igreja percebe o chamado. Em outros, o filho acaba por não ficar na mesma igreja, pois Deus o leva para algum lugar distante para, ali, desenvolver a sua vocação.

Enfim, espero de coração que a enquete nos ajude, como igreja, a refletir sobre o problema da sucessão e a encontrar o equilíbrio necessário para que o rebanho sempre saia fortalecido em momentos de transição. E que tenhamos de Deus o senso de saber a hora de pararmos.